segunda-feira, 7 de março de 2011

Rapinagem a la marroquina





Devo confessar que andei perdendo a esportiva. Não é novidade para ninguém que uma viagem a qualquer lugar do Oriente não é fácil, confortável e tranquila o tempo todo. Há que se adaptar a formas às vezes muito diferentes da nossa de agir, relacionar-se, negociar e ser.

Conversando hoje, Tania me fez lembrar que eu havia tido uma impressão muito ruim das pessoas, quando visitei o Marrocos a primeira vez, há trinta anos. Parecia que eu havia esquecido. Mas não, na realidade o processo foi mais complexo do que isso. É que, muitos anos depois, visitando a Turquia e tendo a oportunidade de aprender uma forma distinta de ver a vida, se relacionar, fazer amizade e, neste caso específico que me fez perder a esportiva, de negociar.
Lá, também não se parte de um preço fixo. Na realidade, se um turco te der um preço de alguma coisa e tu aceitares na primeira, e comprares a mercadoria, ele vai se sentir ofendido. É como se tu estivesses te negando a estabelecer uma relação pessoal com ele. É quase como se, paradoxalmente, ele se sentisse ofendido. Bom, isso é uma coisa. E gostei do que aprendi.

Mas acho que extendi essa experiência, e comecei a considerar que eu havia sido preconceituoso quando de minha primeira visita aqui. Agora vejo que não. São formas completamente diferentes de relacionar-se.

Lembro que uma das coisas que o Pedro comentou, quando voltou da Turquia, foi da gentileza. As pessoas muitas vezes saíam de seu caminho para levá-lo onde ele precisava ir. Era mais do que simplesmente dar a informação. Aqui não se dá informação. Se vende! Ainda por cima sem negociar o preço. O cara diz que vai te indicar, que está tudo bem, que tu não lhe deverás nada por isso. Dá os primeiros tres passos para te mostrar melhor, os tres passos viram trinta, depois trezentos, e o sujeito já está te mostrando a medina inteira, comentando sobre onde se faz pão, ou fios, tapetes, já saiu completamente do que era o teu caminho, já te envolveu numa história que tu não querias... Simplesmente toma posse de ti e não tens como deixar aquela situação, mesmo porque já não tens a mínima idéia de como sair daquele labirinto, que sempre te leva a uma grande loja onde, claro, ele tem comissão.
E, compres tu ou não, uma coisa é certa: ele vai te cobrar pelo "serviço de guia". Ah, é só isso... Não! Sabe porque? Simplesmente porque, independente do quanto tu aceites pagar ao gajo, mesmo que seja o equivalente a vinte corridas de taxi cruzando a cidade inteira, o tipo sempre acha pouco, e insiste em que dês mais, e no fim sai dali praguejando e te chamando de sovina ou o que fôr. Sem considerar que TU NÃO PEDISTE PELO SERVIÇO, só querias uma informação. Resumo: Cortesia zero. Uma pena. O mundo fica mais feio assim.

Um lugar tão lindo, uma terra tão boa, um requinte no artesanato incrível... E um vício de rapinagem que já se vê em qualquer criança. Se isso acontecesse uma ou outra vez, vá lá. Era até de rir, como fiz algumas vezes. Mas todo o tempo, em cada esquina, a partir de qualquer olhar que dês a alguém...

Vão aqui as fotos de dois desses 'chicletes' caros. Não preciso dizer que, obviamente, ELES é que se introduziram nas fotos. Uma delas era apenas para ser a foto da porta da casa onde Matisse viveu. Virou a foto de um chato.

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