Chegamos em Marrakech ao anoitecer e a cidade já impressiona
por ser muito mais moderna e bem construída do que o esperado. Mal largamos as
malas no espetacular hotel onde foi gravado o filme “Sex and the City”, o
Sofitel Marrakech Palácio Imperial, e partimos a pé para a praça Jemma al-Fnad,
centro da Medina, coração do Marrocos, ponto fervilhante da cultura local.
Lugar de fortes emoções, onde tudo acontece.
No
fim da tarde começam a rufar os tambores chamando as pessoas, as barracas são montadas
diariamente para servirem as comidas mais deliciosas e exóticas que se pode ver
assim, na rua. Cores, fumaça, diversidade em todas as suas nuances. Contadores
de histórias se apresentando, malabaristas, grupos de dançarinos (no Marrocos
são os homens que dançam), encantadores de serpentes, macacos adestrados,
vendedores de água (que agora só servem para serem fotografados, porque ninguém
é louco para tomar água que não seja mineral!) Tudo passando: pedintes,
crianças, vendedores mil, turistas mochileiros, mulheres de burka, lindas
orientais, homens de jelaba, todo tipo de credo, vestimenta, língua, cultura. Escolhe-se
pessoalmente os frutos do mar servidos no jantar, comido com as mãos, sentados
em tendas, como em um filme. Depois passam mulheres vendendo doces, que são
espetaculares, assim como guardanapos para tirar a gordura das mãos. O legal aí
é sair dos condicionamentos ocidentais e se sentir livre para saborear a vida
de outra maneira, nesta caldeira escaldante e borbulhante de cheiros e gostos
indescritíveis.
A noite foi arredondada
por um encontro de risadas enluaradas, vinho e a vista de uma das piscinas mais
glamurosas do planeta. Acho que nunca na vida me senti tão inspirada para
escrever quanto neste dia. Meu coração mais uma vez batia em compasso com o da
mãe África: estava exaltado, queria gritar, cheio de amor por este continente,
este país.
Logo cedo no
outro dia, fui fazer meu “reconhecimento” da cidade através de uma corrida
exploratória. Percorri 15 km a trote, observada por olhares atentos. Minha
impressão foi de que a cidade, fora da Medina, é meio que uma Brasília do
oriente, em tons ocre e com arquitetura distinta, obviamente: longas quadras,
avenidas enormes em muito bom estado, áreas separadas para os hotéis, para os
shoppings, para os bairros residenciais. Percorri as avenidas Mohammed V e VI,
com seus charmosos restaurantes, sorveterias e cafés. Cada praça do meu trajeto
era um novo suspiro. Uma cidade que respira cultura e tradição, mas ao mesmo
tempo tem todos os benefícios do mundo ocidental, com a diferença dos camelos e
pôneis nas esquinas, no caso de uma carona necessária. Cada carro que passava
era uma buzinada e uma gracinha pronunciada em todas as línguas até que se
obtivesse a resposta desejada: um sorriso ou ao menos um olhar.
De dia
muitos palácios e madrassas para conhecer, a arte árabe no seu esplendor
através do olhar marroquino. Artistas de extremo bom gosto e minuciosos em seu
trabalho, transportando-nos para outro mundo. Luxo, beleza e sutileza. Além
disso, a Medina! Ah, a Medina de Marrakesh! Enorme, linda, completa, tem de
tudo que um turista gosta e quer. Lugar para se esparramar, negociar, fazer
amigos, pois é negociando que se fazem amizades no Marrocos. Luminárias de bronze,
joias de prata, ouro, objetos da áfrica, tapetes, milhões de tapetes: dos berbéres,
tuaregues, nômades... Não tem desculpa para não comprar: cartão de crédito,
envio postal (que funciona, são super sérios nisso, sabemos de muitas
experiências bem sucedidas).
A grande
mesquita, com o minarete da Koutoubia, é o centro de toda a cidade. Nesse lugar
nos sentimos no centro do mundo, misturando Ocidente e Oriente, todos em
perfeita sintonia. Na hora do pôr do sol, o muezim solta a voz enquanto os tons
de laranja iluminam os sorrisos felizes de todos os expectadores, extasiados
com o momento. Ninguém deveria morrer sem ver isso ao menos uma vez.
Nesta noite, pegamos até uma balada! No final das contas, as
únicas boates que vendem álcool são as de dentro dos hotéis internacionais, e o
nosso era o melhor deles, portanto estávamos hospedando a melhor boate!
Coloquei uma roupa meio larga para garantir que não ia dar escândalo, mas para
minha surpresa eu era a mulher mais bem comportada da festa. Alas Vips se
empoleiravam em diversos níveis de altura (quanto mais dinheiro, mais alto!)
enquanto uma banda tocava. O custo de um mojito era o equivalente a 45 reais,
ou seja, hoje era o meu dia de piriguete, ou não teria dinheiro para beber. (Hahaha,
o fim do julgamento!). As garrafas de espumante e vodka desciam com foguinhos
acesos, baldes iluminados, cada uma custando mais de mil euros. Gente jovem,
bonita, flashes e mais flashes por todo lado. A conclusão foi a de que esse
tipo de balada é igual em todo o mundo: uma grande batalha de egos. Fizemos
amizade com alguns marroquinos e dançamos noite adentro, cercadas por homens
grudentos que rapidamente se apossavam como nossos donos, ao ponto de quase ser
necessário chamar a segurança. A cultura machista de lá é realmente pesada
neste ponto.
Outro ponto
alto de Marrakech é a casa do Yves Saint Laurent, no bairro Guélis. A casa mais
estilosa e fashion do mundo, com seu jardim de cactus de todas as espécies
possíveis, o jardim Majorelle. Tons de azul e amarelo fazem de todas as fotos um
primor. Fiquei só imaginando tudo o que já rolou naquela casa em termos de
festas, reuniões, encontros de gente louca, legal, surfando a crista da onda em
termos do que a vida pode oferecer. Cada cantinho do lugar tem resquícios desta
energia. A gente fica exaltado, até um pouco “high”. É imperdível.
Por essas e por outras, afirmo que Marrakech é uma destas
cidades do mundo que é preciso ver para crer. Must go, e ponto.”