Este trecho da viagem é realmente fantástico. Margens
escarpadas, cânions, curvas sinuosas, o mar sempre azul à direita, tamareiras e
palmeiras em peso. É o próprio Big Sur californiano, com um pouco menos de
infra.
Em uma das paradas na estrada, fomos conhecer a cooperativa
das mulheres que fabricam artesanalmente o óleo de argan, tão conhecido agora
internacionalmente como excelente para os cabelos, e pelo qual se paga
verdadeiras fortunas nos salões de beleza. Trata-se de uma sala enorme, cheia
de mulheres sentadas no chão, quebrando as cascas do argan, duras feito aço, com
uma pedra. Olhares baixos, dedos enfaixados, judiados, mãos acabadas, mãos que
trabalham.
A grande maioria delas é mais velha, todas muito pobres e
algumas viúvas. Perder o marido no Marrocos pode ser uma verdadeira desgraça,
por isso elas se juntam em cooperativas para garantir o seu sustento. Ah, as
mulheres, sempre dando um jeito de sobreviver. Mas antes que ficássemos com
pena, elas fizeram uma pausa no trabalho, sinalizada por uma barulheira de
panelas feita por uma delas. Cada uma pegou seu instrumento musical, juntaram-se
todas em um canto e começaram a tocar, alegres, enchendo o ambiente de vida!
Palmas, cantoria, dança, sorrisos.
Olhava para elas e via que, apesar da miséria, decidiram que
ser feliz é melhor do que ser triste. Aliás, pareciam muito mais felizes e
livres do que muita gente que tem tudo, inclusive eu, em alguns momentos da
vida. Até que um novo batuque diferente anunciou que deveriam voltar ao
trabalho. E aí se foram, sem reclamar ou fazer cara feia, de volta a seus
postos.
Após enchermos sacolas e mais sacolas de produtos de argan,
partimos novamente, com o coração preenchido. Tum, Tum, Tum.
Um pouco mais a frente, paramos para almoçar na charmosa vila
de Taghazout, onde mesquitas e surf shops ocupam o mesmo espaço físico. Lugar
de surfistas e muitos turistas gringos atraídos pelas ondas, Taghazout é uma
cidade cosmopolita e deve ter menos de 10.000 habitantes. Escuta-se todo tipo
de línguas e vê-se todo tipo de gente. O mar estava cheio de pontinhos, indicando
um dia de ondas grandes. O muezim mais uma vez cantava ao fundo, chamando para
prece. Do mar, os surfistas escutavam e contemplavam a vida, o sol, a beleza do
momento.
Paramos em um café estilo francês, com deque de madeira e
wifi, comemos uma refeição deliciosa e tiramos muitas fotos. Uma pena não poder
ficar mais tempo ali, adorei a “vibe”.
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